SECÇÃO: Chaves
João Batista reconhece que integração foi um “erro”
Câmara quer Hospital fora do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes
A Câmara Municipal de Chaves vai propor ao Governo a desintegração do Hospital flaviense do Centro Hospitalar de Trás-os-Montes. A autarquia justifica a decisão com relatos frequentes de falta de recursos e respostas adequadas após a integração.
O presidente da Câmara de Chaves, o social-democrata João Batista, reconheceu, na passada terça-feira, em conferência de imprensa, que a integração do Hospital de Chaves no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), decretada pelo Governo há cerca de dois anos, foi um “erro” e que não correspondeu “às expectativas da população”. “Assistimos hoje com frequência a relatos que configuram uma manifesta e progressiva falta de recursos para uma resposta adequada na unidade de Chaves”, justificou Batista. Disposto a emendar o erro, o autarca anunciou que irá propor a criação, em Chaves, de uma Unidade Local de Saúde (ULS), uma figura com autonomia administrativa, financeira e patrimonial, que iria fun-cionar em rede com os centros de saúde do Alto Tâmega. A proposta não é nova. Já tinha sido apresentada pela autarquia em 2006, quando o Governo propôs, pela primeira vez, a integração do hospital flaviense no CHTMAD. Na altura, não foi aceite. João Batista alega, no entanto, que agora há “dados novos”. Desde logo, que o Governo já criou, desde a altura da primeira proposta, mais três ULS. Além disso, Batista defende que a criação da ULS “reforça e consolida” o recém criado Agrupamento de Centros de Saúde do Alto Tâmega.
Politicamente, o PCP foi o único partido que sempre se opôs à integração. Em sede de Assem-bleia Municipal chegou a apresentar uma moção de rejeição da integração. A proposta acabou chumbada com 5 votos contra do PSD. O PS absteve-se em bloco. Ontem, João Batista justificava que, depois de chumbada a proposta de criação da ULS, a integração foi entendida como “um mal menor”. Num artigo de opinião publicado na sexta-feira passa num jornal local, um membro da Comissão Política Concelhia do PS, José Mendes, também arrasou a integração. “Globalmente, todos pensam que a integração foi altamente penalizadora para os utentes e para os profissionais”, escreveu Mendes. No documento, o socialista apelava ao presidente da Câmara para tomar posição sobre o caso. “Diga aos flavienses que esta integração foi um erro, um fracasso rotundo, que as populações do Alto Tâmega saíram defraudadas nas suas expectativas e que vai lutar, perante a tutela, por uma solução diferente, uma solução que salve e nos devolva o nosso hospital”, lia-se no texto. No entanto, na conferência de imprensa, Batista negou qualquer relação entre o artigo publicado no jornal e a tomada de posição da Câmara. “Nem governamos para jornais, nem nos deixamos governar por jornais”, atirou o autarca. O vice-presidente, António Cabeleira, acusou, por sua vez, o PS de “só falar para os jornais” e de as suas posições “não terem consequência nenhuma”. “Ou o PS de Chaves não fala internamente, ou PS nacional não ouve os partidos a nível local”, concluiu.
Profissionais também se queixam da integração
Após a integração, os profissionais do Hospital de Chaves tam-bém se têm queixado da gestão feita. Em Agosto do ano passado, os chefes de equipa do serviço de urgência chegaram a pôr o lugar à disposição. Queixavam-se de falta de profissionais para responder com qualidade. Os enfermeiros do quadro, que integravam uma lista de voluntários, recusaram mesmo fazer acompanhamento de doentes transferidos para outras unidades por não concordarem com a drástica redução do pagamento.
Recentemente, também o presidente da Ordem dos Médicos, de visita a Chaves, criticou o crescente “desinvestimento” no hospital flaviense e associou até a desmotivação que se apoderou dos profissionais aos constantes pedidos de reforma antecipada.
Ainda assim, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar, Carlos Vaz, garante que estão a ser feitos investimentos em todos as unidades. Em entrevista ao jornal “Notícias de Vila Real”, da semana passada, lembrou, por exemplo, que, nos últimos dois anos, foi criado “um novo serviço” de nefrologia, em Chaves, que foi adjudicada a reestruturação de todo o equipamento na área da gastrenterologia. Também anunciou que em “breve” vai começar a funcionar uma ala de consulta externa de obstetrícia e pediatria na unidade flaviense.
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