SECÇÃO: Chaves
Mário Carneiro foi director clínico das Termas durante quase 60 anos
Morreu o grande impulsionador do termalismo em Chaves e no país
Proibiu o lançamento de estrumes e o alojamento de animais nas imediações; incentivou os donos das pensões a desinfectar e substituir as banheiras de zinco por ferro esmaltado; foi o grande impulsionador da construção de primeiro balneário... Ao longo de quase 60, o médico Mário Carneiro foi o grande motor de desenvolvimento do termalismo em Chaves e no país. Morreu no passado domingo. Tinha 90 anos.
Aos amigos mais próximos con-fessaria que gostaria de chegar aos 90 anos. Mas, às vezes, tinha dúvidas. “Se calhar já não chego lá”, diria. Mário Carneiro morreu no domingo. Já a caminho dos 91 anos. Estava internado há cerca de um mês com uma doença crónica.
Nascido em Chaves, a 7 de Dezembro de 1917, o médico cirurgião foi durante quase 60 anos o director clínico das Termas de Chaves e é, por isso, considerado o grande impulsionador do termalismo na cidade, mas também no país e até em Espanha. Além de várias obras relacionadas com as Termas de Chaves, produziu diversas palestras em Portugal e em Espanha sobre o assunto.
A sua relação com as Termas começou em 1945, ao apresentar na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra a sua tese de doutoramento sobre as caldas flavienses. “Dediquei-me desinteressadamente ao estudos das águas das caldas de Chaves por dois motivos: primeiro, por serem da minha terra, segundo, por ver a ignorância que havia sobre elas”, citou, Vasco Lavrador, no livro que escreveu sobre o médico. Nesse mesmo ano, viria a ser nomeado director clínico das Termas, que, na altura, segundo a mesma obra, “não passavam de uma ‘nascente’ onde existia apenas uma buvete de água não captada”. No local, a água era aproveitada para depenar galinhas e lavar garrafões. E, nas imediações, havia terrenos onde era deitado estrume de animais e também era, ao lado da fonte, onde semanalmente se realizava a feira de gado. Perante este cenário, Mário Carneiro começou logo por sensibilizar os donos das pensões para que melhorassem as condições de higiene, nomeadamente que desinfectassem as banheiras onde os então aquistas beneficiavam da água termal, transportada a cântaros. Além disso, também conseguiu proibir o alojamento de animais nas habitações circundantes. Também se deve ao clínico o uso da água termal com regras, nomeadamente através de prescrição médica, e foi também graças à sua insistência que foi aberto o primeiro balneário em 1972.
Mário Carneiro viria apenas a deixar a direcção clínica das caldas em 2004.
Até ao fim, foi conhecida a sua posição relativamente ao uso da água. Intransigentemente, defendia que a água devia ser usada em exclusivo para fins terapêuticos e não para usos ligados a tratamentos de beleza e de bem-estar.
“Foi, sem dúvida, a grande alavanca dos vários investimentos que foram feitos nas Termas, defendendo sempre o seu uso para fins terapêuticos”, recordou Altamiro Claro, o ex-presidente da Câmara de Chaves, envolvido na homenagem que lhe foi prestada por altura que fez 90 anos.
Mas esta não foi a única homenagem que lhe foi prestada. Por altura da comemoração dos 50 anos como director clínico, foi-lhe colocado um busto, da autoria do escultor Sousa Pereira, no Largo das Caldas.
Em 1993, recebeu a medalha Municipal de Mérito grau prata e dois anos depois foi-lhe atribuída a de grau de ouro. Em 1997, foi condecorado pelo então Presidente da República, Jorge Sampaio, com a medalha Grande Oficial da Ordem de Mérito e, em 2003, foi homenageado pela Ordem dos Médicos pela longevidade da sua carreira.
Além da dedicação às Termas, os amigos lembram, sobretudo, o amor que dedicava à cidade onde nasceu: Chaves.
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