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Edição de 13-05-2011

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Arquivo: Edição de 06-06-2008

SECÇÃO: Montalegre

Rota turística inaugurada por mais de cem caminheiros
Vilar de Perdizes reaviveu memórias do contrabando

fotoUm dos muitos caminhos que a população de Vilar de Perdizes utilizava para fazer contrabando foi transformado numa rota turística. O percurso, de cerca de 16 quilómetros, foi inaugurado no passado domingo por mais de cem caminheiros, que, de viva voz, puderam ouvir algumas estórias relacionadas com uma actividade então clandestina e perseguida. “Quando eu vim para aqui só duas pessoas não faziam contrabando. O menino Jesus e São José que tinha o menino ao colo”, disse aos visitantes o padre Fontes, para mostrar a importância da actividade nesta aldeia.
“Comprei quatro pneus para o carro, multaram-me; comprei um colchão, multaram-me; comprei lá um aquecedor, foram-mo buscar a casa...”. O mediático padre Fontes nem com a ajuda dos santos tinha sorte no contrabando. “Não o fazia de forma organizada e não subornava os guardas”. Lurdes Rodrigues tinha dias. Uma vez foi surpreendida pelos carabineiros com uma cesta de sardinhas. Para a não a levarem para o posto, os guardas galegos fizeram-na apanhar uma gabela de lenha para queimar as sardinhas. Mas, para sua sorte, na hora de atear fogo, faltaram fósforos. Os carabineiros puseram então em marcha o plano B: lançaram as sardinhas numa vala e obrigaram Lurdes a cobri-las com terra. Não satisfeita com o prejuízo, Lurdes explicou a uns amigos galegos onde as sardinhas estavam enterradas. Estes desenterraram-nas, lavaram-nas e venderam-nas por ela. “As primeiras a comprar foram as mulheres dos carabineiros”, conta, regozijada, Lurdes. Domingo, em Vilar de Perdizes (Montalegre), foi dia de reavivar memórias. Do tempo do contrabando. Um dos trilhos mais utilizados pela população que galgava a fronteira foi transformado numa rota turística e inaugurado por mais de uma centena de caminheiros, que, ao longo de cerca de 16 quilómetros, ouviram dezenas de estórias dos que outrora o trilhavam para ganhar a vida e assistiram mesmo a uma recriação de uma cena entre guardas e contrabandistas. “A ideia é que os guias da rota sejam as próprias pessoas da aldeia”, explicou a David Teixeira, do Ecomuseu do Barroso, um projecto da Câmara de Montalegre. O projecto teve a participação de concelhos da vizinha Galiza e foi financiado por fundos comunitários. Além da exploração turística, a iniciativa pretende impedir o esquecimento desta realidade.
Antes do início do trajecto, os participantes visitaram uma exposição ligada ao tema. “Quando cá cheguei, só duas pessoas não faziam contrabando. Sabem quem?”, perguntou o padre Fontes. “Um era o menino Jesus e outro São José, que tinha o menino ao colo!”, brincou. Uma antiga professora corroborava que até as crianças faziam contrabando. “Algumas dormiam sonos profundos na escola e eu até pedia aos outros para fazerem pouco barulho, porque era do que eles mais precisavam”.
Com a abertura das fronteiras, a actividade cessou. “Os burros (que carregavam o contrabando) reformaram-se e os aventureiros emigraram”, rematou o pároco.





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