SECÇÃO: Chaves
No âmbito do programa "Novas Oportunidades"
Conseguiu o 9º com oitenta anos
Há pouco mais de seis meses tinha apenas a 4ª classe. Hoje, tem o diploma de 9º ano. José Guia, residente em Chaves, tem 80 anos e é um dos muitos adultos que, formalmente, viu certificadas as competências que adquiriu ao longo da vida, no âmbito do programa do Governo "Novas Oportunidades". O diploma do 12º ano é o passo que se segue.
“Escrevam o sumário: áreas e perímetros – ponto - Medidas no sistema internacional”. Obedientes, os alunos apontaram na capa o que o professor ditava. E a aula começou. Com distinções que todos pareciam dominar. “Um litro é igual em qualquer parte do mundo, mas o almude e a pipa, por exemplo, são medidas regionais, explicava o professor, entrando, a seguir, nos múltiplos e submúltiplos do metro. A matéria faz parte do módulo “matemática para a vida” e os alunos que assistiam à aula, a última antes de serem ava-liados por um júri, fazem parte de uma turma (de pessoas portadoras de deficiência) da Escola Fernão de Magalhães integrada no sistema de Reconhecimento e Validação e Certificação de Competências, no âmbito da iniciativa do Governo “Novas Oportunidades”. O programa permite a obtenção de qualificações com base na experiência adquirida ao logo da vida (pessoal, social e profissional). E foi assim que, aos 80 anos, José Guia, conseguiu o diploma do 9º ano. Quando começou, tinha apenas a 4ª classe. Moveu-o a vontade de “matar” o tempo que sobra a quem há muito está reformado da PSP por motivos de invalidez. “Pelo menos estou entretido e não fico fechado em casa”, justifica o octogenário estudante. Mas não só. José Guia viu também no curso, que incluiu um módulo de francês, uma forma de tirar da prateleira um curso de francês que comprou por correspondência há “oito, nove anos”. “Conforme o recebi e o paguei assim está”, observou, a rir-se.
Quando se inscreveu nas “Novas Oportunidades”, José Guia fê--lo para a certificação do 6º ano. No entanto, depois de uma reunião, os professores que durante seis meses ministraram módulos - como linguagem e comunicação, cidadania, informática - optaram por propô-lo para a certificação do nono ano. “No final, o presidente do júri, deu-me os parabéns”, lembrou José Guia, que agora pensa já em inscrever-se para obter o diploma de 12º ano.
Por falta de acessos para cadeiras de rodas na Escola Fernão de Magalhães, as aulas de certificação da turma de José Guia decorreram na sede da delegação do Alto Tâmega da Associação Portuguesa de Deficientes, onde os professores se deslocaram.
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