Arquivo: Edição de 18-03-2011
Aluna de turismo criou roteiro do espaço em braille Museu da Região Flaviense acessível a invisuais
Por que é que a maioria dos museus e espaços de cultura têm guias em inglês e francês, por exemplo, e não têm catálogos em braille, para os invisuais? E por que é que apesar de, segundo as estatísticas, o número de pessoas com deficiências visuais ser maior ao de defi-cientes motores se fala apenas na falta de rampas de acesso em locais públicos? As questões martelaram na consciência de uma jovem estudante da licenciatura em Turismo do pólo de Chaves da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro na hora em que teve de escolher o tema do projecto de investigação para a conclusão do curso. Martelaram e já deram frutos para além do mero exercício académico, sob o tema “Escuridão nos Museus”. Inconformada com o género de trabalhos que se resumem apenas a “dissertações teóricas”, Ana Tavares decidiu passar à prática. Foi assim que nasceu o primeiro roteiro em braille do Museu da Região Falviense, um espaço que anualmente recebe uma média de 40 mil visitantes e que é um dos mais importantes em termos de epigrafia romana no Norte de Portugal e da Galiza, mas que, até agora, estava inacessível a invisuais. “Não consegui incluir no roteiro todo o espólio, porque o trabalho foi feito apenas durante o mês de estágio curricular e porque fica muito dispendioso, mas espero que seja um primeiro passo e que sirva, pelo menos, para sensibilizar para um problema que persiste em quase todo o país”, disse Ana Tavares, natural de Setúbal. O roteiro, de 15 páginas, inclui a planta do Museu e a descrição detalhada de cerca de 100 peças expostas no espaço. O Padrão dos Povos, uma coluna cilíndrica de granito, ornamentada com inscrições honoríficas com caracteres latinos, e um dos ex-libris do Museu, é a única peça do roteiro que pode ser tacteada. Projectado pela estudante, o roteiro foi produzido numa empresa especializada em Lisboa e custeado pela autarquia que encomendou dez exemplares. Ana continua, no entanto, inconformada. A jovem gostaria que agora o Museu avançasse para áudio-guias, o que permitiria visitas completamente autónomas. Por uma razão simples. “Todos devemos ter acesso à cultura”, remata Ana Tavares. Por: Margarida Luzio |