Arquivo: Edição de 25-03-2011
Director-Geral da Roche Portugal é de Chaves e falou ao Transmontanos de Gema “Podemos invadir o mundo com os nossos produtos autênticos e de sabor inigualáveis”
Semanário TRANSMONTANO (ST): Ainda se considera um transmontano de gema? António Alberto Rodrigues (AAR): Sem dúvida nenhuma. Nasci em Chaves há 63 anos, agora moro em Cascais, mas as minhas raízes são em Chaves. Os cheiros que mantenho na minha memória são de Chaves. ST: Já trabalhou em vários países, num percurso interna-cional de mais de 30 anos, continua ligado a Trás-os-Montes? AAR: Mantenho muitas ligações. Os meus três irmãos residem todos na cidade de Chaves, que visito com alguma regularidade e onde mantenho muitos amigos. ST: quando foi a última vez que esteve em Chaves? AAR: Há aproximadamente dois meses. Foi uma visita muito rápida. Tive oportunidade de ficar no novo hotel de Vidago, que continua lindo e um empreendimento fantástico. ST: Nota muitas diferenças na cidade de hoje e naquela que deixou? AAR: A cidade cresceu muito, já não nos conhecemos todos, como naquela época. Também evoluiu do ponto de vista arquitectónico. Está uma cidade moderna. Os espaços verdes estão muito bem cuidados! A cidade está mais bonita do que nunca! ST: Em Cascais sente a falta de quê? AAR: Não me esqueço nunca do cheiro, quando na Primavera, passávamos pelo Largo do Tabolado, à beira do rio Tâmega, e escutava os passarinhos. É uma coisa que ainda recordo. ST: E no prato, é transmontano? AAR: Sem dúvida. A minha mulher, que não é transmontana, também é fã e até tem amigos de vários talhos, onde aproveita para comprar presunto, salpicão, pé de porco, orelha e outros produtos que não se encontram por aqui. ST: Mas há algum prato que goste especialmente? AAR: Na época do Inverno, num restaurante onde vou, que não digo o nome para não fazer publicidade, peço sempre à mulher do Fernando, o dono, para me fazer salpicão com batatas cozidas e grelos. ST: Acha que os flavienses o conhecem? AAR: Os da minha idade sim. Ainda há pouco tempo tive a oportunidade de ser convidado por um grupo de pessoas aqui em Lisboa que andaram a estudar comigo no Liceu e que não via há muito tempo. Fizemos aqui um bom almoço no Rossio. Manter as amizades do tempo de escola é uma coisa muito bonita. ST: Aí em Lisboa, visita a Casa de Trás-os-Montes? AAR: Lamentavelmente ainda não fui. Fica aqui no Campo Pequeno, já fui convidado por um amigo, mas ainda não se propiciou. ST: Trabalhou fora muito tempo, fale-nos um pouco dessa experiência AAR: Foi uma experiência enriquecedora na Roche, onde estive em oito países, sempre em funções de liderança. Recordo que tinha 32 anos e já tinha reportados a mim mais de mil pessoas. Realmente, eu era muito jovem na época para ter esse tipo de responsabilidade, mas foi sobretudo importante pelas coisas inovadoras que pudemos introduzir nalguns países. Algumas dessas coisas estamos trazendo para Portugal, como é o caso do programa de apoio a doentes com cancro, que é o programa Tempo de Viver, que lançámos em Abril do ano passado e que acaba de receber o patrocínio da Sociedade Portuguesa de Oncologia. Já temos 300 doentes nesse programa e já estamos a expandi-lo para mais instituições do Centro e do Sul do país. Enfim, é um programa de apoio ao doente com cancro, que ajuda não só no tratamento como a melhorar a qualidade de vida do doente. É uma coisa nova em Portugal e na Europa, deixe-me dizer-lhe. Penso que na Roche podemos começar a orgulharmo-nos disso. ST: Poderão essas preocupações socais estar ligadas às raízes transmontanas? AAR: Em Trás-os-Montes somos extremamente solidários, extremamente preocupados com o bem-estar do próximo. E isso, de facto, é algo que nos atinge culturalmente e o que fazemos tem seguramente a ver com isso, com essas raízes, que são profundas. ST: A determinação e garra reconhecidas aos transmontanos ajudam a vingar na vida? AAR: Nós transmontanos somos uns lutadores e, como lutadores, vencemos várias vicissitudes, dificuldades, traduzimos dificuldades em oportunidades. ST: Se Trás-os-Montes fosse uma empresa que estratégia seguiria, ou que conselhos daria aos empresários transmontanos? AAR: Hoje o mundo é uma aldeia global. E isto não é um chavão. De facto, é verdade. Pode--se produzir em qualquer parte do mundo e o mundo está aí para consumir os produtos, não importa onde sejam produzidos. A China está a mostrar isso, outros países estão a mostrar isso. Por isso, não é importante o lugar onde se produz, mas o mercado onde se penetra com esses produtos. Mesmo aí, em Trás-os-Montes, e voltando a falar dos nossos produtos, eu creio que nós podemos invadir o mundo, exportando esses produtos, porque são de qualidade, de sabores autênticos e inigualáveis, donde vejo uma extraordinária oportunidade de exportação desses produtos no mercado global. Há pouco tempo li que havia uma pequena empresa em Bragança que era uma grande exportadora de enchidos e fiquei impressionado com o sentido empreendedor do jovem que está a construir uma empresa de grande dimensão, porque não está preocupado com o mercado onde produz, mas com o mundo, o mercado onde vai vender. ST: O que faz falta para deixarmos de ser uma região deprimida? O que faz falta aos empresários transmontanos? AAR: Deixar de pensar na região, pensar no mundo. ST: De tantos anos, a trabalhar lá fora, o sotaque transmontano já lá vai… AAR: Eu costumo dizer que falo portunhol. Com mais de 16 anos a viver em países de língua hispânica, é difícil. Agora, sinto que quando vou a Chaves e fico aí uns três dias seguidos, o sotaque volta rapidamente. Não sei porquê, mas deve ser alguma coisa que está por trás, latente e que nunca se esquece. ST: Qual a chave do segredo do seu sucesso profissional? AAR: Comunico muito com as pessoas, tenho uma comunicação directa. Creio também que desafiar paradigmas me motiva muito. Na nossa companhia, os doentes estão no centro de tudo o que fazemos e isso fez aproximar a indústria farmacêutica directamente aos doentes, uma coisa que não se imaginava no passado, onde a indústria farmacêutica estava para vender medicamentos e não para cuidar de doentes. Isso não é assim. ST: Por fim, a pergunta da praxe. Como define um transmontano de gema? AAR: Nós transmontanos somos autênticos, somos verdadeiros, amigos dos nossos amigos e, repito, somos uns lutadores.
Realizada via telefone, a entrevista pode ser ouvida na Rádio Larouco, hoje a partir das 10h00. Por: Margarida Luzio |
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