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Edição de 13-05-2011
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Montalegre

Iniciativa solidária em Vilar de Perdizes mobilizou centenas de pessoas

Bilheteira de chega reverteu a favor de vítima de acidente de viação

Para compensar o facto dos primeiros bois não terem "pegado", houve uma chega suplementar
Para compensar o facto dos primeiros bois não terem "pegado", houve uma chega suplementar
As chegas de bois que se realizaram no passado domingo em Vilar de Perdizes tiveram um fim solidário. A bilheteira do espectáculo reverteu a favor de um morador que um acidente de viação deixou quase imobilizado. A receita ultrapassou os dez mil euros.

José David e José Xelino, de 55 e 57 anos, são “viciados” em chegas. “Vão a todas” . Ou quase. No entanto, no domingo, não foi apenas para matar o vício que os dois homens de Gralhas foram a Vilar de Perdizes. À semelhança de centenas de pessoas, foi por solidariedade. A bilheteira do espectáculo taurino reverteu a favor de um morador da aldeia, Paulo Colmonero, de 40 anos, que um grave acidente deixou praticamente imobilizado. “Assim, com o mesmo pau matamos dois coelhos”, explicava José David, de costas voltadas para o Larouco e de olhos pregados nos bois que já se encontravam no recinto. Fátima Crespo, professora primária reformada, estava mesmo encostada à grade que separa o campo de chegas das bancadas térreas onde o público assiste em pé. A antiga professora da aldeia conhece a tradição, já fez um trabalho académico sobre ela e até sabe, por ouvir ao povo, os sinais que os bois dão quando querem fugir ao adversário [borram-se], mas, ao contrário dos dois josés de Gralhas, não é presença habitual nestes espectáculos. No entanto, domingo não pôde deixar de ir. “O Paulo foi meu aluno, tenho-o no coração. Por isso, por ele e pela família, tinha de participar neste acto de solidariedade”, justificava. Alheios à nobreza do acto, os bois pareciam, porém, não estarem para animar o público. Um fugiu ainda mal se tinha aproximado do adversário e o segundo fez na mesma. Nos entrementes, José David e José Xelino punham a conversa em dia. Falavam do milho francês que José David tinha intenção de semear no naval. Para “experiência”. Mas a entrada de um novo animal em campo mudou o rumo da luta. Houve chega a sério. E emocionante. O que parecia que ia perder acabou por ganhar, contrariando a sabedoria do povo transmitida à professora. Afinal, nem sempre o boi que se borra perde. E, para compensar o amuo dos primeiros animais em campo, houve ainda uma chega suplementar, com sacrifício do boi que já lutara.

A ideia da organização das chegas solidárias partiu de António Dias, (Calvô), organizador deste tipo de espectáculos, proprietário de bois e amigo do jovem acidentado. No final, mostrava-se satisfeito com a adesão da população à iniciativa. “Gostava de agradecer a todos os que vieram até aqui, mas também aos que compraram bilhetes mesmo sem assistirem às chegas, e, claro, agradecer também aos proprietários dos bois, que trouxeram os animais de forma gratuita”, referiu António Dias, revelando que a verba total conseguida “ultrapassou os 10 mil euros”. Além da bilheteira da chega, também o dinheiro conseguido no bar reverteu a favor da mesma causa.

Aneurisma provocou acidente

Casado e pai de dois filhos, de 9 e 5 anos, Paulo Colmonero sofreu o acidente de viação em Outubro, na sequência de um aneurisma de que foi vítima enquanto conduzia. Depois de vários meses internado no Porto, está agora em recuperação na Unidade de Cuidados Continuados de Chaves.

No domingo, pôde, no entanto, assistir à chega. Fê-lo no interior de uma carrinha, estacionada perto do recinto onde os bois lutavam, na companhia da mulher. “Claro que tínhamos que o trazer! Então íamos fazer a festa sem estar o principal convidado?”, explicava, antes do espectáculo, um irmão.

Por: Margarida Luzio


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