Opinião

O direito à indignação

Foram palavras de elevadíssima sapiência as que o professor de Boliqueime proferiu, quando se referiu ao caso BPN: “quando eu e a minha mulher adquirimos as acções, éramos apenas MEROS professores”.

Ora aqui está bem à vista de todos a ideia que perpassa na mente labiríntica do Sr. Presidente da República. Os professores não passam de uns “Meros” ou, como diz o povo em relação a “babocas”, uns “merdas”. Ficou esclarecido também por que é que o “Mero” Cavaco pincelou a sua vida, fugindo para os cargos de Primeiro-Ministro e, mais tarde, Presidente da República. Talvez se explique agora o alinhamento que o Sr. Presidente Cavaco Silva efectuou com a “ex-mera” Lurdes Rodrigues e agora com a “pseudo” Isabel Alçada. Trabalharam em conjunto para que os alunos ficassem pior servidos em termos de aprendizagens e ajudaram Sócrates a cumprir a promessa dos “150 000 desempregados”. Estão a conseguir essa meta ao despedirem “MEROS” professores e outros “meros” de outras classes profissionais em catadupa.

Desde o vinte e cinco de Abril, os políticos criaram o “melhor dos mundos” em Portugal. O mundo das fraudes, das mentiras e da prepotência fascista. É verdade, construiu-se um facho (feixe) que concentra o poder e concebe as leis que salvaguardam a sua sobrevivência e trucidam os “meros” cidadãos.

Nunca, como agora, fomos atacados por uma vara de políticos sem escrúpulos. Tratar os portugueses por “MEROS”, só poderia lembrar ao frustrado professor Cavaco que pensa ter deixado de o ser.

A falta de dignidade tem limites. Estou indignado e não vou nascer duas vezes.

(Este texto não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)

Por: António Joaquim Fortuna