Imprimido em 19-06-2011 05:14:37
Semanário Transmontano
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SECÇÃO: Opinião
Com-Posição
E depois das eleições?
Portugal já passou por situações piores e sobreviveu, não há figuras políticas providenciais nem eleição que resolva os problemas do país.
A Comissão Nacional de Eleições não quer, ou não gosta, que “em cima” do acto de votar, se publiquem artigos sobre a campanha eleitoral. Façamos-lhe a vontade.
Dizer que a campanha foi politicamente fraquinha ou que apenas serviu para conhecer melhor os candidatos, não é fazer campanha. Também não é fazer campanha afirmar que o que era relevante não foi discutido por nenhum dos participantes. Seria útil saber o que iriam fazer com os poderes presidenciais depois de eleitos, e fundamentalmente o que iriam fazer com o pilar mais desconjuntado da nossa democracia, que é a Justiça.
O presidente da República tem entre outros, um papel importante na afirmação de Portugal no contexto internacional, mas é nas instituições nacionais que mais pode influenciar, como “garante do seu regular funcionamento”. É na acção (inacção) da Justiça que se encontram os maiores entraves ao normal funcionamento das instituições.
É o estado de não funcionamento da Justiça que mais dificuldades coloca aos investidores estrangeiros e nacionais, segundo eles próprios; não são as leis laborais, o valor dos salários, ou outro factor, é a circunstância da Justiça em Portugal não funcionar.
Na situação de estagnação económica, a caminho da anunciada recessão, facilitar a vida a quem está disponível para investir, criando emprego e riqueza, é uma tarefa que devia mobilizar para além do Governo e do Parlamento, a presidência da Republica.
Depois das eleições, com o lugar de presidente definido com ou sem segunda volta, não são de esperar no curto prazo alterações na situação política por iniciativa presidencial. Começará a especulação sobre crises políticas, mas a acontecerem cedo, será por causa da situação social e não da vontade dos partidos da oposição. A estabilidade governativa está mais dependente do exterior, a ofensiva dos mercados e a contra-resposta europeia, que da politica caseira. O preço que se pagará nos leilões de obrigações a cinco e dez anos, assim como o sucesso da diversificação dos compradores (é o esforço actual do governo) ditará o espaço de tréguas na luta política significativa, que politiquice haverá todos os dias. A execução orçamental das metas definidas será o outro factor crucial para a credibilidade da governação. Adivinham-se coligações negativas de muitos interesses, alguns bizarros, como se viu no facto do PSD e o Bloco de Esquerda (juntos), terem inviabilizado uma percentagem de corte no subsídio de renda de casa dos juízes. Não será fácil gerir o país nos próximos tempos, nem há opções milagreiras para os obstáculos.
Os juros que pagamos pelas dívidas contraídas nos mercados, para manter o país activo, são incomportáveis com a falta de crescimento económico. A capacidade de baixar esses juros é fundamentalmente externa; antes de Março, devido a eleições internas, a Alemanha não aceitará o reforço do fundo de estabilização europeu que deverá amainar a gula dos mercados. Temos pela frente uma previsível recessão, com redução da actividade económica, desemprego e diminuição do consumo interno, acompanhada talvez com inflação provocada pelo aumento do preço dos combustíveis. Teremos menos e mais caro crédito bancário, e piores condições para acudir aos mais atingidos pela crise. Vai ser complicado para muitos que nunca passaram por uma crise grave, mas se os portugueses estiverem informados podem optar pelas soluções mais convenientes para a maioria, fazerem melhores escolhas.
Portugal já passou por situações piores e sobreviveu, não há figuras políticas providenciais nem eleição que resolva os problemas do país.
A seguir às eleições de domingo é segunda-feira igual ás outras segundas-feiras deste ano, o primeiro dia das muitas semanas de dificuldades do ano de 2011.
2011-01-18
Por: Carlos Mesquita
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