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Imprimido em 18-06-2011 05:28:57
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SECÇÃO: Opinião

Com-Posição
A questão Líbia (continuação)

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O bloqueio aéreo na Líbia seria uma operação complexa, de resultados duvidosos e imprevisíveis consequências; mas o mundo está cheio de governantes que perderam a noção da realidade.
No artigo da semana passada dava conta do risco de desmembramento da Líbia, nesta altura em que escrevo, essa divisão só parece viável caso haja uma intervenção militar estrangeira.
A intoxicação mediática no início do conflito entre os rebeldes e o regime líbio, fez crer à maioria dos ocidentais menos conhecedores da história e realidade do país, que o caso era semelhante aos da Tunísia e Egipto. Já havia quem tivesse visto, como o ministro britânico William Hague “informações de que Kadhafi ia a caminho da Venezuela”. Depois e com a mesma pressa, perante o armamento dos civis revoltosos, imaginou-se e anunciou-se uma ofensiva sobre Tripoli. Ora todas as autoridades do ocidente sabiam (porque lhe venderam as armas) que Kadhafi possui um poder bélico poderoso, que ainda não usou em força nem vai usar, a menos que a Líbia seja atacada por forças externas.
Ao impasse na guerra civil e perante a ameaça internacional, Kadhafi respondeu primeiro com a reconquista das cidades ocupadas pelos insurgentes a oeste, até à fronteira com a Tunísia, em seguida dominou os complexos petrolíferos até as portas de Benghazi. É em redor da maior cidade da Cirenaica islamizada, que está neste momento. Não é crível que use mais que a força necessária para abrir condições de negociar.
Para o regime de Kadhafi as sanções impostas pelo ocidente nada alteram, nem as deliberações do Parlamento Europeu, da Liga Árabe ou da Conferência Islâmica; o importante é internamente conquistar o apoio das tribos com quem divide a autoridade politica. A maioria delas é espectadora do conflito, seria prejudicada pela divisão do país e tomarão a iniciativa de impor negociações perante uma situação sem solução militar convincente.
Uma intervenção estrangeira alteraria a situação mas é uma aventura sem fim previsível, não há consenso nem nos Estados Unidos. A zona de exclusão aérea é difícil de ser aprovada no Conselho de Segurança (CS) da ONU; Rússia e China, membros permanentes, afirmaram ser contra, e têm direito de veto, para além do Líbano, Brasil, Índia e África do Sul, e o cepticismo da Alemanha. Também a União Africana (UA) “rejeita qualquer intervenção militar estrangeira na Líbia” e “ reafirma o seu compromisso em respeitar a unidade e integridade territorial da Líbia”. A NATO põe como condição a aprovação pela ONU e pelas organizações regionais – incluindo a UA. No interior da NATO a Turquia não aceita qualquer intervenção.
Os Estados Unidos ainda têm por resolver os problemas do Iraque e do Afeganistão. Conforme o secretário da defesa Robert Gates disse no Congresso Americano, “uma zona de exclusão aérea tem de começar com um ataque à Líbia, para destruir as defesas antiaéreas” o que “seria um acto de guerra” e constituía “uma grande operação num grande país”.
Para além do risco político de uma operação militar da NATO contra um país árabe, há experiência anterior de não se conseguirem cumprir os objectivos de impedir a violência sobre civis, se fosse esse o caso. Iraque, Bósnia e Kosovo são exemplo disso e foram campanhas gigantescas; no Kosovo fizeram-se mais de 30 mil acções militares durante dois meses e meio, e a Líbia é um espaço enorme. Além disso as forças de Kadhafi têm uma grande supremacia militar nos meios terrestres e não precisam (às portas de Benghazi) de projectar à distância operações aéreas ou bombardear uma cidade com muita população civil, o que seria um contra-senso político que Kadhafi, já se viu, não cometerá.
O bloqueio aéreo na Líbia seria uma operação complexa, de resultados duvidosos e imprevisíveis consequências; mas o mundo está cheio de governantes que perderam a noção da realidade.
2011-03-15

Por: Carlos Mesquita

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