Semanário Transmontano

Imprimido em 26-06-2011 23:04:51
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SECÇÃO: Montalegre

Há 4 meses que todas as aldeias têm carreira à porta
“A gente paga o bilhete e pronto! Não fica a dever favores a ninguém!”

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Além da Câmara, também os utentes se mostram satisfeitoss com a rede pública de transportes
A Câmara Municipal de Montalegre está satisfeita com o resultado dos primeiros quatro meses de transportes públicos em todas as aldeias, uma solução que resultou de uma reorganização dos circuitos escolares. Segundo o presidente da autarquia barrosã, já há municípios a querer importar a ideia e até a Universidade de Trás-os-Montes se interessou pelo projecto. Os utentes também se mostram satisfeitos.
Se não fosse aquele cabelo, Vanessa, de 14 anos, até tinha boleia mais tarde. Mas não. Saiu ao pai. Tem muito e encarapinhado. Quando quer esticá-lo é o cabo dos trabalhos. Às vezes ocupa duas cabeleireiras: uma agarra-lhe a cabeça a outra estica-lhe os caracóis. Por isso, na sexta-feira, com festa de fim-de-ano à espreita, não teve preguiça. Levantou-se e foi apanhar o autocarro que em tempo de aulas a leva para a escola. Ainda antes das 9h00 haveria de estar em Montalegre à porta do cabeleireiro para apanhar vez. Jéssica, 17 anos, amiga de Vanessa, com menos cabelo, mas quase tantos caracóis, optou por um penteado ao natural e caseiro. Por causa do tempo a ameaçar chuva. Mas foi fazer companhia à amiga. Às 7h40 foram as primeiras passageiras da carreira que faz a ligação da aldeia de Meixide à sede do concelho. E quase, quase as últimas. Em Vilar de Perdizes, ninguém, em Solveira… ninguém, em Santo André… ninguém… “Hoje é mau dia! Fim-de-Ano! Já no Natal foi igual. Se viesse na segunda já não faltava gente, para não falar ao dia de feira”, explica o motorista. Maria Alice Teixeira, de 66 anos, a terceira passageira, haveria de entrar na penúltima paragem do autocarro. Saco e guarda-chuva num braço, dinheiro certinho do bilhete na mão.
É passageira habitual. Ainda na terça-feira apanhou a carreira para ir ao centro de saúde aos medicamentos. Para a tensão, o colesterol e para os diabetes. Para ela e para o marido, nove anos mais velho. Ela é que toma conta de tudo. “Já com o meu primeiro marido eu é que era a senhora do dinheiro e agora também”, explica.
O autocarro à porta vale-lhe muito. É que Maria Alice não gosta de ficar a dever favores a ninguém. “Assim, a gente paga e pronto!”, explica. Hoje [sexta-feira] Maria Alice ia especialmente ao talho. “Vou buscar rojões”. E, “se Deus quiser”, ainda os há-de pôr a fazer hoje. No pote e “com rachas de carvalho”.
Desde o início do ano lectivo que todas as aldeias do concelho de Montalegre têm transporte público à porta.
O serviço resultou de uma reorganização da rede de transporte escolar por forma a que o circuito servisse também a restante população.
Ao todo, foram criadas 25 carreiras. E, pelas contas da autarquia, o aumento de custos em relação à factura já paga pelo transporte escolar foi de apenas 200 mil euros. Mas o que o presidente da Câmara, Fernando Rodrigues, gosta mesmo de realçar é “o alcance social e a justiça” da medida. “Coloca os barrosões, que estão longe da sede do concelho em igualdade com os que estão na sede, no acesso aos serviços públicos, à saúde, ao comércio, porque passa a existir transporte acessível todos os dias, de todas as aldeias, de modo que as pessoas possam deslocar-se e fazer a sua vida normal sem grandes encargos no transporte”, assegura o autarca, garantido que já há municípios que querem importar a solução e que até a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro se interessou pelo caso. “Quis saber como é que nós fizemos e atribuiu ao projecto grande mérito, pelo alcance social do transporte público, que é implementado em regiões de montanha”, concluiu Rodrigues.

Por: Margarida Luzio

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